segunda-feira, 15 de março de 2010

Memória com o grupo Beje Eró

Além das nossas ações de pesquisa e coleta de material histórico, zanzando e vasculhando arquivos, ouvindo histórias ou narrativas sobre o bairro e seu entorno, no dia 15 de março fomos ao Conjunto Viver Melhor, no Vale do Ogunjá, ao encontro do Beje Eró, uma associação cultural localizada na comunidade.
Do Solar para o entorno, fomos desenvolver um trabalho sobre a memória com jovens do grupo. Abaixo seguem algumas fotos de nossos momentos interessantes e bastante estimulantes:

Construção de Mapa de Pessoas com as quais interagimos: por intimidade, compromisso, os próximos e os distantes...

Das listas ou nas listas... tipificação das relações!

Linhas do tempo individual...

Preparando as cenas em grupos...

Dramatizando/representando as cenas...

Todos nós!

Mais informações sobre o grupo Beje Eró, conhecer suas ações e projetos, é só acessar: http://www.bejeeroart.blogspot.com/

domingo, 14 de março de 2010

Memória e memória local

A importância e valorização da memória local tem sido evidenciada no debate sobre o reconhecimento e visibilidade dos grupos sociais. Apesar de recente, a concepção de memória como processual, socialmente construída, uma construção do tempo socialmente vivido, torna-se uma maneira de pensar o passado em função do futuro que se almeja. É a memória, com seu valor intrínseco como experiência coletiva, que confere sentido às relações sociais e ao território, os lugares, no qual estas relações se produzem historicamente.

(Dona "Nica", 80 anos, e seu presépio em construção)

Daí o significado do relembrar, do recordar, pensado como refazer, reconstruir, com imagens e idéias, as experiências do passado. Através da memória é possível “re-ler” o mundo. As marcas significativas da ocupação sedimentam o espaço e deixam marcações na paisagem, nos lugares. A memória, nesse sentido, reconstrói o espaço, suas fixidez e fluxos pretéritos. É precisamente por isso que a memória trata de vínculos sociais. Daí a importância da memória oral, já que esta pode transcender às marcações políticas e econômicas institucionalizadas ao se inscrever pelas experiências passadas, trazendo temporalidades que os documentos não conseguem dar conta.

(Da pedreira uma fonte-minadouro entre muitas... todos os caminhos levam ao vale do Dique do Tororó - "ou itororó") - marcas no espaço de outros usos e sobreposições.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quem foi Juliano Moreira: sobre sua obra?

Encontramos um artigo em memória do médico baiano fundador da psiquiatria no Brasil.
Nele, os autores, Ana Maria Galdini Raimundo Oda e Paulo Dalgalarrondo, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, falam sobre a importância de sua obra. Vale a pena conferir:

"Um aspecto marcante na obra de Juliano Moreira foi sua explícita discordância quanto à atribuição da degeneração do povo brasileiro à mestiçagem, especialmente a uma suposta contribuição negativa dos negros na miscigenação. A posição de Moreira era minoritária entre os médicos, na primeira década do século XX, época em que ele mais diretamente se referiu a esta divergência, polemizando com o médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Também desafiava outro pressuposto comum à época, de que existiriam doenças mentais próprias dos climas tropicais.

Convém ressaltar que a teoria da degenerescência nunca seria colocada em questão por Moreira, mas apenas os seus fatores causais. Para ele, na luta contra as degenerações nervosas e mentais, os inimigos a combater seriam o alcoolismo, a sífilis, as verminoses, as condições sanitárias e educacionais adversas, enfim; o trabalho de higienização mental dos povos, disse ele, não deveria ser afetado por "ridículos preconceitos de cores ou castas (...)".

Em seu discurso de posse, ao ser aprovado no concurso para professor da Faculdade de Medicina da Bahia, em maio de 1896, Moreira descreveu de forma tão elegante quanto contundente o que parece ser sua experiência pessoal com relação ao marcante preconceito de cor na sociedade brasileira de então. Endereçando-se "(...) a quem se arreceie de que a pigmentação seja nuvem capaz de marear o brilho desta faculdade (...)", disse: "Subir sem outro bordão que não seja a abnegação ao trabalho, eis o que há de mais escabroso. (...) Em dias de mais luz e hombridade o embaçamento externo deixará de vir à linha de conta. Ver-se-á, então que só o vício, a subserviência e a ignorância são que tisnam a pasta humana quando a ela se misturam (...). A incúria e o desmazelo que petrificam (...) dão àquela massa humana aquele outro negror (...)"
 
Para conferir na íntegra:
 
 

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quem foi Juliano Moreira?

Juliano Moreira, nascido em Salvador, em 06 de janeiro de 1873, falecido no Rio de Janeiro, em 02 de maio de 1932, foi médico e um desbravador da psiquiatria brasileira. “O primeiro professor universitário a citar e incorporar a teoria psicanalítica no seu ensino na Faculdade de Medicina.”

Pobre e negro, em 1886 entrou na Faculdade de Medicina da Bahia, localizada no Terreiro de Jesus, Pelourinho, concluindo o curso com 18 anos, em 1891, passando em seguida a professor da mesma instituição.

Já em 1900 representa o Brasil em congressos internacionais: em Paris, neste ano - sendo também eleito Presidente Honorário do 4º Congresso Internacional de assistência a alienados, em Berlim; também foi congressista brasileiro em Lisboa, em 1906; Milão e Amsterdão, em 1907; Londres e Bruxelas, em 1913.

Em 1903, após ter exercido a clínica psiquiátrica na Faculdade Baiana, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Durante seu trabalho na direção do Hospício Nacional dos Alienados, do Rio de Janeiro, humanizou o tratamento e acabou com o aprisionamento dos pacientes.

“Defendeu a idéia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais, como a falta de higiene e falta de acesso à educação, contrariando o pensamento racista em voga no meio acadêmico, que atribuia os problemas psicológicos do Brasil à miscigenação. Foi importante representante internacional da Psiquiatria brasileira.”

Por essas idéias, aparece no panteão de cientistas brasileiros que lutaram contra o pensamento racista – combatendo o etnocentrismo.

"Aqui vivi e vivo..." - D.Creusa e o Juliano Moreira

"Não existia esse Parque, o Solar Boa Vista. Tenho lembrança de muito mato por aqui. Aqui era o antigo Juliano Moreira. Era mesmo de doido varrido [risos]. Ia daqui até lá no fim de linha. Era o Juliano, muitos pés de arvoredo e depois foi demolido. Essa casas aí que você tá vendo, não, não tinha não. [...] E muita casa que tá aí hoje, de 20 e tantos anos foi feita com os entulho do Juliano." (D. Creusa, 72 anos, há mais de 40 anos morando no Engenho Velho de Brotas)

E informações oficiais disponíveis no site Memorial Professor Juliano Moreira:

"Na Bahia, O Governador do Estado, J. J. Seabra torna o Asylo São João de Deus um organismo público. Em 29 de julho de 1925 pela Lei Estadual n°.: 1811 declaram-no "Hospital São João de Deus". Nestes anos iniciais do novo século sucessivas reformas e ampliações na estrutura física do hospital foram sendo realizadas. Construíram-se novos pavilhões para internações. Em 1930 aconteceu o golpe de Estado e profundas transformações ocorreram na política nacional. A Nação em maio de 1932 foi surpreendida com o falecimento de Juliano Moreira no Rio de Janeiro. O Governo da Bahia transforma a denominação institucional. Surge o "Hospital Juliano Moreira" (27 de agosto de 1936).

Tentativas governamentais de reformas físicas foram repetidas, mas o velho prédio de Brotas continuava se deteriorando. Ao final dos anos setenta a população interna do hospital eram em sua maioria crônicos e incapacitados para o desempenho de atividades e convivência social destinados a viverem eternamente no interior do hospital e alguns outros que se reinternavam, com freqüência, dentro de um ciclo vicioso, também cronificador. Viviam sujos, mal alimentados, precariamente medicados e sem privacidade. Os velhos tempos do "Asylo". As mesmas contradições presentes. A cultura imperial do Asylo foi mantida.

Década de setenta. Debates internos e assembléias mobilizando todas as categorias profissionais sobre as precárias condições de vida dos pacientes, do trabalho dos técnicos e o modelo estadual de assistência psiquiátrica. Uma Instituição centenária continuava caótica, fruto da insensibilidade do poder público, distanciada da sociedade e carregando o peso da visão exclusivista e preconceituosa da doença mental. Numa assembléia interna um grupo técnico elabora o "Plano para Reformulação do Hospital Juliano Moreira" inserindo-o numa visão mais ampla, objetivando também a definição de uma política de Saúde Mental para a Bahia. Iniciavam o texto do documento afirmando: "A simples reforma do hospital seria uma atitude inócua. A desativação do Hospital, com a criação apenas de uma nova unidade, no aspecto da estrutura física, não passaria de repetições de erros anteriores com uma nova roupagem. Ou seja, a questão do Hospital Juliano Moreira não se resume ao arcaísmo e inadequação de sua estrutura física, mas a toda uma problemática das instituições psiquiátricas em países como o nosso, e a atual política em Saúde Mental."

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ruas do Engenho Velho de Brotas - algumas imagens

 

Brotas: Um trecho da "cidade feitiço"

Escreve Carlos Torres, em livro intitulado "Bahia - cidade-feitiço" , sobre o bairro de Brotas nos idos de 1950:

"O bairro de Brotas, completamente diferente dos demais percorridos, é central, muito saudável, distribuído sôbre uma série de morros, nos quais as construções nos vários planos emprestam interessantes aspectos panorâmicos. Bastante extenso compreendem o Matatú Grande e Pequeno, Cosme de Farias, Pitangueiras, Bôa Visa, Marquês de Abrantes, Engenho Velho, Acupe, Avenida D. João VI. Para percorrermos o bairro de Brotas, podemos partir da Fonte Nova, subindo a ladeira de Caramurú (Galés), onde se vê, à esquerda, ao alto, no número 26, o Hospital Militar. Adiante vamos encontrar a Avenida D. João VI. No trecho da Bôa Vista, acha-se o Hospital Juliano Moreira, para alienados, antigo solar que residiu Castro Alves. Continuando a avenida D. João VI, vemos, à direita, o Stant de Tiro da sexta Região Militar, no número 187 o Pirajá Atlético Club, no número 263 a Fundação Anti-tuberculosa Santa Terezinha e à esquerda, no número 330, o Hospital Aristides Maltez, da Liga Bahiana Contra o Câncer. Dobrando a estrada da Redenção, vamos visitar a Casa do Retiro do São Francisco, admirável mansão para repouso, òtimamente situada, dispondo de confortáveis instalações. O estabelecimento está circundado de belo jardim e poético parque, com árvores seculares, onde se encontram os passos da vida de Christo, em interessantes capelinhas feitas com pés de figos educados. Prosseguindo a Avenida D. João VI, temos a Igreja de Brotas e, adiante, o Cemitério e o Asilo São Salvador, para velhos. Ao voltar, percorrer a rua das Pitangueiras, que tem os nomes de Amaral Muniz, Manoel Quirino e Agripino Dória. No trajeto, à direita, no número 26-A, o Instituto de Preservação e Reforma e alcançar a rua Barros Falcão que corta e Matatú Grande e Pequeno, para encontrar a praça 1 de Maio, (Largo das Sete Portas). Daí pela Baixa dos Sapateiros vamos terminar na praça Thomé de Souza."

Fonte: TORRES, Carlos. Bahia - "Cidade-feitiço". Salvador: Imprensa Oficial da Bahia, 1957.

Verbete - Solar Boa Vista


Datado de 1874, o Solar Boa Vista foi residência do poeta abolicionista Castro Alves e sua família durante boa parte de sua vida. Mais tarde foi transformado em asilo, foi sede da Prefeitura e, atualmente, é onde funciona a Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

Fonte: CARREIRA, Mauro. Bahia de Todos os Nomes. Salvador: A Tarde, s.d.