sábado, 20 de fevereiro de 2010

"Aqui vivi e vivo..." - D.Creusa e o Juliano Moreira

"Não existia esse Parque, o Solar Boa Vista. Tenho lembrança de muito mato por aqui. Aqui era o antigo Juliano Moreira. Era mesmo de doido varrido [risos]. Ia daqui até lá no fim de linha. Era o Juliano, muitos pés de arvoredo e depois foi demolido. Essa casas aí que você tá vendo, não, não tinha não. [...] E muita casa que tá aí hoje, de 20 e tantos anos foi feita com os entulho do Juliano." (D. Creusa, 72 anos, há mais de 40 anos morando no Engenho Velho de Brotas)

E informações oficiais disponíveis no site Memorial Professor Juliano Moreira:

"Na Bahia, O Governador do Estado, J. J. Seabra torna o Asylo São João de Deus um organismo público. Em 29 de julho de 1925 pela Lei Estadual n°.: 1811 declaram-no "Hospital São João de Deus". Nestes anos iniciais do novo século sucessivas reformas e ampliações na estrutura física do hospital foram sendo realizadas. Construíram-se novos pavilhões para internações. Em 1930 aconteceu o golpe de Estado e profundas transformações ocorreram na política nacional. A Nação em maio de 1932 foi surpreendida com o falecimento de Juliano Moreira no Rio de Janeiro. O Governo da Bahia transforma a denominação institucional. Surge o "Hospital Juliano Moreira" (27 de agosto de 1936).

Tentativas governamentais de reformas físicas foram repetidas, mas o velho prédio de Brotas continuava se deteriorando. Ao final dos anos setenta a população interna do hospital eram em sua maioria crônicos e incapacitados para o desempenho de atividades e convivência social destinados a viverem eternamente no interior do hospital e alguns outros que se reinternavam, com freqüência, dentro de um ciclo vicioso, também cronificador. Viviam sujos, mal alimentados, precariamente medicados e sem privacidade. Os velhos tempos do "Asylo". As mesmas contradições presentes. A cultura imperial do Asylo foi mantida.

Década de setenta. Debates internos e assembléias mobilizando todas as categorias profissionais sobre as precárias condições de vida dos pacientes, do trabalho dos técnicos e o modelo estadual de assistência psiquiátrica. Uma Instituição centenária continuava caótica, fruto da insensibilidade do poder público, distanciada da sociedade e carregando o peso da visão exclusivista e preconceituosa da doença mental. Numa assembléia interna um grupo técnico elabora o "Plano para Reformulação do Hospital Juliano Moreira" inserindo-o numa visão mais ampla, objetivando também a definição de uma política de Saúde Mental para a Bahia. Iniciavam o texto do documento afirmando: "A simples reforma do hospital seria uma atitude inócua. A desativação do Hospital, com a criação apenas de uma nova unidade, no aspecto da estrutura física, não passaria de repetições de erros anteriores com uma nova roupagem. Ou seja, a questão do Hospital Juliano Moreira não se resume ao arcaísmo e inadequação de sua estrutura física, mas a toda uma problemática das instituições psiquiátricas em países como o nosso, e a atual política em Saúde Mental."

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